Minha identidade não tem carácter temporário, mas sementes de eternidade! (Moysés Azevedo)
Alguém a quem muito estimo escreveu: 'se vires a mim, vagando por aí, peça para eu voltar, diga que estou esperando.'
Como é bom saber que se de mim eu me perder, tenho para onde voltar, tenho raiz, e melhor ainda terei alguém a me mostrar onde eu vou estar. Em cada retorno: um rabisco, uma inspiração, um poema, uma canção... folhas, flores ou frutos, que surge ao querer da estação...
A ela me disponho! Com ela eu vou! Nas raízes da alma, a verdade de quem sou!

Sob os dias de maio

        ...vindo do além mar, de paragens distantes e ingrimes, sou surpreendido por uma alegria aterradora. Nada traz esta alegria a mim, ela simplesmente brota, cresce como sendo fonte em si mesma de mais alegria. Esta alegria não é algum bem que os olhos podem enxergar, que os dedos podem tocar ou os sentidos podem experimentar. Sendo mais que um intensivo regalo ela não é adversa a minha tristeza, em mim ela está como uma fina chuva que acaricia a alma, cheia de recordações saudosas, me fazendo desejar nada ter, nada querer. Hoje eu não quero muita coisa, quero apenas essa melodia silenciosa que como seta indica o caminho da minha realização. Que os outros disputem entre si aquilo que não é mais meu. Já tive demais! E curvado pelo peso daquilo que por tanto tempo insisti em carregar, vou aprendendo a me reerguer, certo de que nada mais pode me manter nesta posição envergada além do costume. Vans tradições que se sacralizaram em mim e me distanciaram da glória divina que é o homem de pé. O inusitado mais uma vez se manifesta no Verbo, na palavra que se torna canção ao me interpelar: 'Onde deixei de Te amar? Onde perdi o Teu olhar? Me deixei levar pela estrada a fora...' De estradas mil, aqui estou encerrado no tempo, cárcere da alma, entre ânsias que não se aliviam. E quem pode vê a mim? Alguém escuta este grito sem fim? No afã dos dias, aprendo com esta alegria, que vai além daquilo que os homens podem vê. Ó homens, pasmai e escutai! Quem consegue em um átimo de segundo mensurar quem eu sou? Nada vós sabeis de mim! Destarte, calai e observai, quem eu sou não está mais aqui, andou vagando por aí, como bem mencionou um outro 'eu', perdendo e se perdendo, se gastando no tempo, à sombra de fantasmas e lendas, em poças d'águas que me soçobraram. Daí, ó Senhor, onde eu me perdi e Te perdi estou a regressar enquanto na varanda da memória vigora a terna recordação de quem apostou em mim de dentro para fora, vendo-me além do meu momento, não aprisionando-me no tempo. Lá, eu sou mais eu, nada há para mostrar, nada há para justificar, só o gostinho de nada precisar provar! Entrementes, talvez eu não seja mais o mesmo, e por isto, a época de maio é mais alegre como bem frisou um certo Bolseiro.