Minha identidade não tem carácter temporário, mas sementes de eternidade! (Moysés Azevedo)
Alguém a quem muito estimo escreveu: 'se vires a mim, vagando por aí, peça para eu voltar, diga que estou esperando.'
Como é bom saber que se de mim eu me perder, tenho para onde voltar, tenho raiz, e melhor ainda terei alguém a me mostrar onde eu vou estar. Em cada retorno: um rabisco, uma inspiração, um poema, uma canção... folhas, flores ou frutos, que surge ao querer da estação...
A ela me disponho! Com ela eu vou! Nas raízes da alma, a verdade de quem sou!

Do verso para a prosa

Não é fácil traduzir na escrita aquilo que ela não pode conter. Por isso,  muitas vezes o medo me fez silenciar não dando oportunidade aos parágrafos do meu cotidiano... O Autor desta história, que faz de mim o protagonista, observou: falta eloqüência! Hoje, aquilo que antes era monólogo, deixou de ser intangível quando transformou-se em diálogo. Não mais estava sozinho. Com outros, comecei a atuar nesta história, descobrindo que: 

Sou um pobre verso que não se contém,
Desejando ser uma voz a ecoar,
Na prosa de alguém que consiga absorver,
Este grito inibido nas raízes do meu ser... 

Do outro lado, alguém escutou, e assim evidenciou: 

Como agradar o coração de Deus em seu chamado, 
se há espinhos tão evidentes a serem arrancados?
Minha luta constante é para manter-me autêntica, 
mas não fazer dessa autenticidade uma metralhadora giratória. 
Não fazer de minha evangelização imposição, 
não fazer de meu testemunho uma faca de dois gumes, 
onde me corto... 

O pobre verso não sabia reconhecer se alguém realmente o escutava, 
ou se simplesmente seu monólogo ecoava...
novamente ele se pronunciou: 

Sou feito de anseios e planos,
em desejos e propostas de engano...
Sou feito de meus medos e trocas,
se tiver que medir força eu solto a corda,
Às vezes tento ser mais do que eu sou,
me canso e vejo aquilo que não sou... 

Novamente, a voz retrucou: 

Por tantas vezes teorizei os planos de Deus em minha vida. 
Tudo era muito belo, antes que se concretizasse. 
Já supervalorizei o que Deus colocava,
simplesmente como primeiro passo,
e à medida que esses passos se ampliaram
percebi que não era bem o que buscava, 
ou o que minha humanidade ansiava... 

Estar errada, ser fraca, não poder viver uma realidade, 
foram situações que já criaram conflito interior em mim, 
e o Senhor fez questão que eu os vivesse, 
para começar a perceber a quem eu deveria servir...

A permissão para meu cansaço, 
o deparar-me com aquilo que não dou conta sozinha, 
a dor dos 'nãos 'de Deus, 
me fizeram perceber o quão rica e dolorida é a humildade concreta, 
dessas que a gente pena e quando vê está ainda distante... 

O pobre verso percebeu que não estava só,
embora aquela voz lhe fosse semelhante, ela soava diferente.
De quem seria esta voz?
Ela parecia o compreender e ainda conseguia
transcrever o que não havia sido mencionado.
Ele então resolveu persisti no diálogo: 

Não sou super-herói e em meu peito dói
não ter a minha vida em minhas mãos,
Sou feito em escolhas do que quero expor,
que nem sempre revela o que eu sou
Na minha aparência o que eu quero ser,
ser livre pra optar e pra escolher... 

Na outra margem, aquela nobre voz suspirava: 

Ah! A liberdade....
Teoricamente tão fácil de se viver, de se conquistar, 
mas àqueles que conhecem o Amor
deve-se ter o cuidado de não confundi-la com prisão,
renúncia de tudo, menos de si mesmo... 

Ah! Se vivêssemos o Amor,
a liberdade de Ser quem somos, mas com os olhos do Amor,
com a prudência do Amor,
entenderíamos as asas que estão em nós 
e saberíamos além de usá-las para qual direção no direcionarmos...

Não tenho que tudo suportar,
tenho o direito de gritar, dizer um belo não, 
mas dizê-lo, por vezes também não me faz ser quem sou, 
mas o que não gostaria de ser em determinado momento. 

A prudência também já me fez livre tantas vezes...

O pobre verso ficou intrigado!
Acaso ele não era o que deveria ser?
Seria ele mais do que um verso? E que asas são estas?
Para onde o pobre verso poderia ir com elas?
Poderia ele com estas asas voar
para a outra margem de onde a nobre voz ressoava?
Estas perguntas, só fizeram surgir outras,
seguida de uma conclusão:

Quem manda no meu tempo? Por que ele rege o meu viver?
O que dura pra sempre e as traças não vão corroer?
Pra fazer o bem até que me esforço, 
mas com o mal que há em mim nem sempre posso!

Ela imediatamente sentenciou:

O Senhor do tempo, por vezes na minha vida, 
foi o único que não permiti que usufruísse dele... 
O TEMPO ESCONDE O QUE É ETERNO!
Meu Deus, como isso é concreto... 
Por que me escravizo ainda por coisas que passam?
Como ordenar tudo isso?
Como o bem poderá prevalecer em mim,
se me consumo pelo mal proceder? 
Se os grãos de areia da engrenagem conseguem
destruir tantas horas de giros e produção?
Como me convencer que o Amor já venceu,
se temo a batalha antes que ela comece?
Onde está meu olhar para o Eterno? O que dispersa esse olhar?

Ao perceber sua própria fraqueza tão evidenciada, ele disse:

No vento vou com as circunstâncias,
vejo como ainda sou uma criança!
Na minha angústia para ser melhor,
paciência comigo nem sempre quero ter,
Quanta coisa pra crescer e ainda entrego ao tempo o meu querer...

A nobre voz silenciou! Em seguida sua prosa continuou:

A minha maior convicção e refrigério d'alma 
é que Deus nunca desistiu do que Ele começou em mim... 

O que impediria o pobre verso de ser como a prosa de voz tão nobre?
Porque não voar até o outro lado
para absorver esta retórica tão nova?
Não era mais preciso! Algo lúdico acontecia dentro dele 
como o despertar de uma manhã que nunca mais conheceria o ocaso.
Não se contendo mais em si, o pobre verso deixou algo escapar:

Em justa troca ele (o tempo) me angústia e me sufoca, 
me torna feito de quase nada e me explora! 
Afinal de contas, aquilo a quem dou poder
pode me tornar o que não quero ser...

A nobre voz compreendia muito bem o pobre verso.
Ela também um dia, surpreendida por alguém, 
teve a dádiva de obter asas para voar até a outra margem.
Sua prosa um dia foi verso!
Mas hoje, livre de tudo o que a poderia adstringir,
Ela sabia o que é realmente ser livre 
e como transmitir esta liberdade!
E assim, ensinou:

Oh, tempo! Quantas vezes minha lentidão entra em conflito contigo? 
Não saber administrá-lo já tornou-me escrava de tuas pendências... 
Não é a necessidade de tê-lo a mais,
mais de dar qualidade quando o tenho... 
Um tempo que não me enlouqueça,
mas que seja colaborador das graças em mim... 
Um tempo que seja por mim tomado, como minha própria vida, 
que por vezes escapa de minhas mãos e vira alvo de julgamentos, 
apontamentos, até de outros administradores. 

Enfim...
Quero que somente o julgador justo tome o julgamento do que sou. 
Ele que tem todo direito por mim e em mim, pois escolheu a mim, 
com todas limitações e pendência humanas, imaturidades,
por ser pior mesmo, 
por não saber diferenciá-lo do tempo que me dominava.
Ele quer por ordem em tudo...

Perplexo, o pobre verso se percebeu inábil a continuar.
Não poderia ser mais o que era,
desde que a nobre voz da prosa chegou aos seus ouvidos.
Atônito se questionou:

Sou feito de quê?

E a nobre voz vindo em seu auxílio,
deu-lhe das suas asas para o pobre verso voar do verso para a prosa.
Neste vôo, ela o fez compreender que este processo de feitura
consiste de uma matéria muito simples...

De limites, mas de infinitas escolhas de superação...

(por Erlison Galvão e Michele Lobo)

Em teus golpes de amor tens me vencido

"Seduziste-me Senhor, e eu me deixei seduzir.
Tu te tornaste forte demais para mim: tu me dominaste"
(Jr 20,7) 

Fiz a incrível descoberta de que muitas vezes escolho esquecer. É certo de que o cérebro nem sempre está disponível a guardar tanta informação... Assim o que é descartável é imediatamente eliminado... Mas o homem não pode permanecer no buraco, ensimesmado, e assim retorno ao blog, depois da insistência de alguns...

Trago em mim uma sede de eternidade imensa. Algo que parece não ter fim. A felicidade deste mundo não consegue saciar toda a minha aspiração de verdade e amor. Minha natureza anseia repousar e apoiar-se naquilo que é duradouro. Num solo com riquezas que sejam capazes de me sustentar e me comunicar a verdadeira vida. Quero provar desta seiva que pode me alimentar e me manter de pé, me dando força para que os ventos das circunstâncias e inconstâncias não possam derrubar aquilo que brota neste solo fecundado pelo Eterno. Tenho minhas raízes na eternidade. Eternidade que me faz descobrir quem realmente sou! Eternidade que me salva de mim mesmo! Eternidade que transforma a dor da espera em amor... 

'Que me faz tudo ofertar! Por que O amo! Que me leva a me comprometer, me doar...' Mesmo quando jugo insignificante o que tenho pra dar e condeno a mim mesmo por não amar, porque não sou o que deveria ser, e não correspondo como deveria corresponder... É exatamente aqui que quero desistir, por que há tanto tempo estou com Ele e ainda não O conheço, Ele ainda é tão estranho a mim... Que tenho eu Contigo? Por que insistes comigo? Que força Te mantém tão perto de mim, estando eu tão longe de Ti... Na minha fraqueza desisto... Optar por mim, se torna mais fácil! Mais assim, tudo parece estacionar como as estações que não deram curso ao seu ciclo dentro de mim. E a lembrança da voz que me atraiu, aquela que me seduziu, às vezes não mais se faz ouvir... Conheci outros sons... e num combate desigual, Tu te tornastes forte demais para mim!

Contudo a eleição! Livre! Aquela que não carece de significado, pois traz no ato de escolher a gratuidade de quem sabe o que é amar, esperar e acreditar... Mais forte que tudo, não desiste, permanece... Irrevogável! Para sempre! Eternamente!

Resisto! Reluto! Pergunto! Questiono! Como sou duro de coração!  
Mais uma vez resisto! Discordo! Concordo em permanecer escravo!
Louco que sou, me engano, penso está a salvo!
Mas esta salvação ainda não me alcançou profundamente!
Lentamente, ela se revela, penetra...
E com uma força extraordinária, sutilmente me desarma,
me faz perder as forças,
Para acolher o que de graça me foi dado
e não pode ser renegado já que é irrevogável!
E assim, depois de haver-me ferido, enfraquecido,
Reconheço que Ele começa a obter o triunfo sobre mim!

Desaparecimento das Estações do Ano

Aquele 'eu' que devo ser

Ultimamente não paro de pensar como é difícil ser quem sou. É duro ser Erlison, de fato. Parece engraçado, mas é um processo doloroso. Não falo simplesmente da dificuldade em ser o filho de Deus, consagrado que se dispõe a cada dia livremente viver por amor os desafios de uma vocação específica. Não este! Este aí, é muito fácil de ser notado, está na opção que eu fiz ao ingressar na vida consagrada. Este posso dizer que é facilmente visto pelas autoridades, pelos irmãos, pelas pessoas que nas esquinas da alma não mensura em suas retinas o que está na rua mais ao lado. 

Falo daquele 'eu' mais profundo, que estando no mais íntimo de mim, é visto a todo instante somente por Aquele que sonda o coração de cada homem. Aquele 'eu', que nunca será cobrado e exigido pelas pessoas que falei acima e que por isso facilmente poderia cair no desleixo para consigo, não sendo fiel as leis mais íntimas do coração. Aquele 'eu', que pensa muitas vezes está só, e que por vezes prefere se entregar a ter que lutar pra ser de fato o que se é.

Há quem se alegre com o que os olhos lhe estampam. Não quero me contentar com o que eles vêem. Quero continuar me esforçando pra ser quem realmente eu sou, ainda quando é mais conveniente concordar com quem pensa está colaborando para um bem que é puro engano.

Não é fácil ser fiel a própria inspiração, dar asas a canção...
O medo nos faz escolher o chão... O amor? Ah, o amor nos dar asas!
Nestas asas descubro que Ele me faz ir além do temor servil,
e escolher o que é de fato o bem.
Aquele bem, que é belo e verdadeiro e assim,
Nestas asas, paulatinamente trago pra fora, 
este 'eu', que poucos podem ver!
Aquele 'eu' que devo ser!

Foi assim que me salvou...

Um homem caiu num buraco,
ele caiu num buraco e não conseguia sair...

Um viajante passou perto. Ele disse ao homem que meditasse
a fim de purificar sua mente, assim, quando ele atingisse o Nirvana,
todo seu sofrimento iria cessar.
O homem fez o que o viajante lhe disse,
mas permaneceu no buraco.

Outro homem apareceu.
Ele explicou que o buraco não existia,
e que o homem também não era real.
Tudo era uma ilusão. Mas o homem que não existia,
ainda estava preso no buraco que não era real.

Outro visitante chegou.
Ele instruiu o homem a fazer boas obras para elevar seu Karma
e, ainda que ele morresse no buraco,
ele poderia reencarnar em algo melhor em sua próxima vida.

Outro homem olhou do alto do buraco,
Ele ensinou aquele que estava no buraco a orar cinco vezes por dia,
voltado para o leste, e a seguir cinco importantes mandamentos.
Se ele fosse fiel, um dia, talvez, o divino o libertaria.
O homem orou o melhor que podia,
mas estava perdendo suas forças.
E no buraco ele permaneceu.

Outro homem apareceu.
Havia algo diferente nele.
Ele chamou o homem no buraco 
e perguntou-lhe se ele queria ser liberto.
Aquele homem então desceu à terra, dentro do abismo.
Ele pegou o homem e o levou até a luz.
E o homem que não conseguiria salvar-se sozinho foi salvo!

Achei este vídeo fantástico.
De forma simples e profunda Deus me alcançou!
Acesse:
http://www.youtube.com/watch?v=BWSjlcw6_Bo&feature=related

Estranho de si

Não queira mais viver a vida de um jeito qualquer...
Quem já se fez livre só por fazer o que quiser?
Abra os olhos não seja escravo não!
Como alguém pode ser livre sem por freio a paixão?

É melhor ser livre para aprender a sofrer,
Do que viver como escravo do próprio querer!
Com medo de crescer qual estranho de si
No impulso do que o mundo lhe diz... (bis)
Não dá pra viver!

Não queira mais viver a vida de um jeito qualquer...
Quem já se fez livre só por fazer o que quiser?
Abra os olhos, pense comigo então, meu irmão!
Como alguém pode ser livre sem por freio a paixão?

Ergo minha voz

Se eu ouvisse a Tua voz,
Certamente eu teria em Ti o meu querer
Se eu tivesse em Ti o meu tudo,
Certamente nada enfim faltaria ao meu ser...
        Contigo eu sei que posso ir, pra muito além, além de mim...
        Se nada eu sou, Tu és meu tudo, ó meu Senhor!


Se eu pusesse meus olhos em Ti,
como na primeira vez em que provei do Teu amar
Sim, mais uma vez, nesta canção eu me daria,
porque sei que vale a pena em Ti sempre estar
        Contigo eu sei que posso ir, pra muito além, além de mim
        Se nada eu sou, Tu és meu tudo, ó meu Senhor!

Ergo bem alto, a minha voz, pra dizer:
Em Ti, vou confiar!
Em teu querer, sim eu vou esperar, sim eu vou...
Acreditar... E o medo não mais restará!

E o medo não mais... e o medo não mais...
o medo não mais restará!

Pois ergo bem alto, a minha voz pra dizer:
Em Ti, vou confiar!
Em Teu querer, sim eu vou esperar, sim eu vou...
Acreditar... E o medo não mais restará, e o medo não mais,
E o medo não mais restará!