Minha identidade não tem carácter temporário, mas sementes de eternidade! (Moysés Azevedo)
Alguém a quem muito estimo escreveu: 'se vires a mim, vagando por aí, peça para eu voltar, diga que estou esperando.'
Como é bom saber que se de mim eu me perder, tenho para onde voltar, tenho raiz, e melhor ainda terei alguém a me mostrar onde eu vou estar. Em cada retorno: um rabisco, uma inspiração, um poema, uma canção... folhas, flores ou frutos, que surge ao querer da estação...
A ela me disponho! Com ela eu vou! Nas raízes da alma, a verdade de quem sou!

Em uma terra cheia de raízes

Nesta terra ainda fresca pela garoa, sob um sol que timidamente traz sua saudação a cada manhã, as raízes da alma paulatinamente descem no Solo, e em silêncio se espalha por ele, no ensejo de sorver o que aqui há de melhor. Ao extrair tão nobre seiva, percebe uma infinidade de sais e minérios que traz força ao cerne. Este, traduz no esplendor das flores, as quais em breve se tornarão frutos, a sublime riqueza que inspira a ação seja em poema ou seja em canção, e que por isso anseia ser mais, e ser mais, é permanecer neste Solo em meio a outras raízes, as quais em seus amplexos me faz descobrir que nasci para este Solo, assim como Ele está aqui para mim. Sim, foi demarcada para mim a melhor terra, e porque neste Solo não estou só, com outras raízes posso haurir da seiva que me faz exultar de alegria em minha herança.


"O Senhor deu-me irmãos..."
(Irmão de Assis, Inácio de Larrañaga)

Sobre a espera...

Esperar, continuo a esperar... E esta espera me introduz na dinâmica da vida. Esperar que a seu tempo cada coisa ao meu redor encontre o seu rumo. Esperar na trama dos dias o desentrelaçar das coisas que compõem esta atmosfera existencial que me caracteriza no tempo. E se eu não mais esperar, eu não negaria ao corpo e ao espírito algo intrínseco a esfera de sua natureza? Esperar, continuamente esperar, seja na fila do banco ou até no trânsito, pelo que não se fez ou pela receita de cada mês, naquilo que está para nascer ou no novo que quer se estabelecer, e apesar de não darmos conta, esperar até a hora de morrer. No desencadear dos fatos, em um ciclo de feitura que não deixa de crescer, tudo espera por dá continuidade, anseia por prosseguir, numa realidade continua que só termina ao entrever a eternidade.

Eleição e Predileção

‘O Senhor ama a cidade que fundou no Monte Santo,
ama as portas de Sião, mais que as casas de Jacó’
(Sl 86 (87), 1-2).

Como não se surpreender com este trecho do salmo que algumas vezes me fez indagar, à guisa reflexiva do salmista, sobre o que ele realmente pretendia exprimir quando relata a predileção de Deus pelas portas de Sião, Cidade de Deus, mais que todas as casas de Jacó.

Recentemente, ao lê este salmo na liturgia diária, pude mergulhar um pouco mais no mistério em que percebi que ele traz em si que é a ‘Eleição’. Ao lembrar como esta experiência da eleição permeia a mim, não há porque querer compreender esta predileção de Deus por aquele que Ele tornou seu eleito. Ele tão simplesmente QUIS escolher, de forma livre e gratuita. Destarte, a comparação do salmista consegue elucidar aquilo que é realmente importante nesta escolha: Ele ama! Ele ama a cidade que fundou no Monte Santo!

Como não dizer então coisas gloriosas desta cidade do Senhor? Foi aí que muitos nasceram, outros renasceram, no entanto um ou outro, no seu seio nunca deixaram de ser alimentados. É por isso que nela, todos juntos, a cantar se alegrarão, e dançando exclamarão: Estão em ti as nossas fontes! Esta fonte que prefigura tudo que está por vir,  da inesgotável nascente em rios caudalosos há de sempre jorrar.

Lembro-me de uma canção que eu ouvia frequentemente, The basics the Life, do 4Him. Se de mim mesmo eu me perder, basta retornar ao início de tudo, ao princípio da vida, ao que é fundamental. Quem sabe não seja por isso que em mim, este blog anseia ser de fato este transbordamento que me faz com as raízes da alma adentrar no terreno do coração do Eterno, ainda que eu nada veja sob este solo, ele é fértil, e me fará nele descobri seu manancial de água viva para que eu absorva da Seiva Eterna que me inebria plenamente.

Como não lembrar de Santo Agostinho ao dizer que o desejo da nossa alma é retornar para Deus e inquieto estará o nosso coração enquanto não repousar n’Ele. Com o auxílio da graça espero a cada instante retornar para Ele, este é o desejo de minha alma, entrar pelas portas da cidade santa que Ele escolheu e aí dá graças porque a cada manhã ao lembrar do seu amor que gratuitamente veio a mim posso renascer e renovar minha confiança. Para não me perder, é só deixar a voz do salmista me alcançar e me mostrar em quem eu devo confiar. Com ele aprendo que minha segurança é uma só: Deus!