Minha identidade não tem carácter temporário, mas sementes de eternidade! (Moysés Azevedo)
Alguém a quem muito estimo escreveu: 'se vires a mim, vagando por aí, peça para eu voltar, diga que estou esperando.'
Como é bom saber que se de mim eu me perder, tenho para onde voltar, tenho raiz, e melhor ainda terei alguém a me mostrar onde eu vou estar. Em cada retorno: um rabisco, uma inspiração, um poema, uma canção... folhas, flores ou frutos, que surge ao querer da estação...
A ela me disponho! Com ela eu vou! Nas raízes da alma, a verdade de quem sou!

Eu e meu Deus

EU E MEU DEUS (Anádrea Grayce) 
Eu e meu Deus! É tão simples, perfeito, eterno,
Que mais posso querer se o Tudo está diante de mim?
       Tudo passa! Tudo passará! O Teu amor está em mim,
       Mas se eu paro o olhar no que passa eu vou pra longe de Ti
E não sei mais voltar... E não sei mais voltar...
Me resta esperar o Teu olhar me encontrar, meu Senhor...
És Tu quem volta pra mim, És Tu quem volta,
E sempre espera por mim, me amas primeiro...
Renova o meu primeiro amor!
Eu e meu Deus, eu e meu Deus...

Definitivamente, não sei mais retornar! E porque eu me perdi? Para onde eu me afastei? Esta canção veio aos meus ouvidos e de maneira simples me alcançou. Através dela Deus me falou! Mas como prever, onde a voz Dele estará? Ela sempre chega a mim quando eu menos espero, e não importa o quão longe eu estou, esta voz bem aí se faz ecoar, para me mostrar que a  iniciativa é Dele que por primeiro me escolheu e por primeiro sempre me ama.

Esta simplicidade na qual Deus fala, traz em si uma profundidade incrível. Até nos meios mais irrisórios Ele pode revelar algo surpreendente, imutável, com características de eternidade. Deus é assim comigo. Fala até com  propaganda! Quem tiver ouvidos para ouvir que ouça... Ai de mim se não ouvir... 

Não sei aonde ir sem esta profundidade de Deus. Se sou Sua imagem e semelhança é bem mais do que óbvio que trago também em mim esta característica da natureza divina. Anseio por esta profundidade! Talvez por isto, escrever seja tão difícil para mim. Não quero ser alguém que não vai ao fundo das coisas e que por isto tem um conhecimento superficial de si, dos outros e do mundo ao redor. Quero descer nas profundezas do meu 'eu', aquele 'eu' ontológico, 'Aquele eu que devo ser'... E viver com toda intensidade as descobertas da minha identidade mais profunda, mesmo que eu venha a sofrer, e sofro, ao vê meu nada me exceder...

Diante do que sou, e às vezes até do que não sou, um ciclo de violência se inicia. Poderia ser o fim, em meio ao conflito, deveria me angustiar, mas algo me faz querer entrar, e mais uma vez, deixar Ele me levar de volta, e novamente,  adentrar, pois quando se ama assim, assim se viverá... Agostinho me faz entender: Não procure fora. Entra em ti mesmo: no homem interior habita a verdade. Raskólnikov[1] que o diga, outro caminho não há! Não dar para da verdade se afastar! E dizer isto, não é fácil! Dostoiévski já advertiu que não há no mundo coisa mais difícil do que a sinceridade e mais fácil do que a lisonja. Aprendi que não há mérito em ser lisonjeado pelo que não se é. O mérito está na verdade! Nesta verdade, com profundidade espero aderir!


[1] Rodion Românovitch Raskólnikov  é o personagem principal do livro Crime e Castigo de Fiódor Dostoiévski, publicado em 1866. Ele também é referido no romance pelo dimunutivo de seu primeiro nome, Ródia ou Rodka. O nome Raskólnikov, provém da palavra raskolnik que significa "cisão" ou "cisma".